12 de dez. de 2007

Pós-educação

Até os 16, 17 anos, nós, os afortunados, que só respondíamos pela alcunha de estudantes, acreditamos que trabalhar é uma nova e divertida etapa que vem pela frente. Tudo bem que é período integral, mas ao contrário do colégio, não se leva lição pra fazer em casa. (Não conta se você for dono do negócio ou freelance)

É uma nova patota que se forma, as bimestrais se transformam em apresentações e projetos importantes, o recreio vira a hora do café... Você ganha o seu cubículo, e-mail, ramal e cartão! Tudo bonitinho e personalizado. Depois de um tempo, você percebe que caiu na rotina de novo e... tcharan: fica com saudade da escola. Até porque, o seu ex-colega de quilo ganhou um tiki maior porque fez uma pós, um MBA, um curso de especialização on-line... Agora é ele que está na primeira fileira, e você continua na turma do fundão – isso contando que você ao menos se divirta com a carreira que escolheu.

Aí você decide ver todos os cursos, palestras e workshops na sua área. Melhor começar light nada de caderno e lousa. (Nessa hora você se esqueceu completamente que hoje em dia isso não existe mais, são notes, relatórios de aula por e-mail e slideshow e que a sua alergia a giz ficou num passado remoto)

Ahhhhhh... que beleza, todo mundo arrumadinho, com cara de gente civilizada, auditório com cadeiras estofadas confortáveis, gente famosa palestrando... Isso sim é estudar! Ser gente grande é ótimo, o intervalo é um momento de descontração - e não de desvarios, o vinho relaxa - não chapa, e você continua tendo a oportunidade de comer besteiras na lanchonete, que agora atende pelo nome de coffee córner. Eu não me envergonho em dizer quantas vezes jantei petit fours... No início eu ficava perto do carrinho, meio sem graça. Depois que fui ficando mais veterana, passei a pegar um punhado no guardanapo, e com um pouquinho mais de tempo de casa, já estava com um copinho térmico de isopor até a boca sem o menor constrangimento. Afinal, eu tenho que me alimentar, não tenho? Fase de crescimento... intelectual!

Da mesma maneira que os gramas de petit four aumentam, surge aquela vontade inerente ao ser humano normal de badernar na aula. Nessa altura da vida você se constrange, acha uma falta de educação tamanha, mas depois de observar os comentários na fileira do lado e se maravilhar com a evolução dos bilhetinhos em sms, a tentação é irresistível! E pensar que eu organizava os papelotinhos por cor: rosa para a Bel, azul para a Sil e preta para o Fê... Fazia um nó danado nas linhas para aproveitar cada espacinho do canto da circular.

O break já não é suficiente para atacar os sequilhos e fazer fofocas, digo, trocar contatos. Mas a seriedade do meu jeans agora acompanhado de saltos e maquiagem me olha no reflexo do celular e sentencia que está tudo errado, que agora eu estou pagando o curso, que entrei lá para aprender e que não tem o menor cabimento não aproveitar a oportunidade. Parece que estou ouvindo o discurso do meu pai... Que até agora, na vida adulta o sermão me acompanha. Bem, o que tenho feito, bravamente diga-se, é resistir a esses impulsos e transformando-os em compras. Porque é incrível o know-how desse pessoal, aprenderam direitinho com a Disney na saída já tem a lojinha: muitos livros sobre o tema da aula, daqueles de capa dura e que vão fazer a maior vista na sua estante!

(Publicada em 2007 no extinto site SerCuritiba)

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