12 de dez. de 2007

Sociedade Descartável

Para acompanhar a velocidade das coisas tudo agora tem que ser portátil, ecológico, tecnológico e não poluente – o que não deixa de ser contraditório, mas enfim, moda é moda. O mesmo vale para os relacionamentos entre as pessoas, semana passada conheci um cara que entrou no embalo e me tratou como bem de consumo. Um amigo ainda perguntou: “Durável ou não-durável?” Descartável! O típico “Nice shoes, wanna fuck?” Não? Uéééé, Por que você está perdendo seu precioso e escasso comodity aqui comigo? Não rolam mais drinks como antigamente...

Celular quase não tem vida últil, computador quase não tem vida útil, câmera quase não tem vida útil... a utilidade deles é fazer a gente renovar as parcelas assim que acaba porque já estão obsoletos. Tudo é muito imediato e frio, não sem tem mais caligrafia é tudo obra da impressora, que não encarou horas de lição de casa desenhando aquelas letras maiúsculas chatas entre as linhas paralelas do caderninho de capa dura. Agora a gente só gasta a letra em post-its - que é o único papel bem aceito pelos moderninhos, afinal agenda é uma coisa arcaica. (que eu adoro... e não vivo sem. Me amarro em lápis, lápis de cor, giz de cera... Pô, a vida pode ser muito mais alegre do que meia dúzia de grifa textos).

Outra coisa contemporânea que me embrulha as entranhas: não dá pra colar post-its na tela do note!!! Toda vez que eu tenho que ligar pro motoboy, pro delivery da padaria ou para aquela cliente chata que pede 12 retornos todo santo dia, sinto um aperto de saudade dos meus post-its verdinhos, rosinhas e amarelinhos. Era uma vida feliz que eu levava com os post-its em várias vias, que nem documentos protocolados. Ou então em cascatas, um em cima do outro... Tão coloridinho, tão alegre... Agora com essa tecnologia móvel, que abre e fecha... Onde é que eu vou colar os pecorruchos?Ainda por cima, arrumei mais uma coisa para me esquecer: a bateria. A praticidade tem seus custos... O note é ótemo, mas levar os fiozinhos... Não tem wireless de bateria não???

Agora em novo endereço

Caros,

devido a um grande número de e-mails indagando, questionando e esperneando cobrando maiores explicações sobre a ausência das minhas coluninhas, resolvi adotar este singelo endereço daqui pra frente.

O Marcelo Rudini , meu amigo multimídia (fotógrafo, jornalista, dono de site e blogueiro) dono do falecido SerCuritiba, decidiu seguir por outros caminhos e mudar para um assunto mais ameno, ele agora responde pelo OndePedalar.com um site de cicloturismo - muito bacana por sinal.

Abaixo as antigas para quem não leu, acima já em ritmo de 2008 - bem coisa de jornalista mesmo já ir pensando na próxima pauta...

sem mais embaço,

Lavando as mãos

Estive ausente. Sou uma sem-educação.
Li uma entrevista com a Cláudia Matarazzo, ban, ban, ban da etiqueta, que a maior gafe da contemporaneidade é o comportamento compulsivo das pessoas não terem mais tempo para nada. É com a maior naturalidade não dar mais a atenção devida a ninguém, atender o celular em praticamente qualquer ocasião. Aliás, já existem estudos sobre a síndrome do celular - já se pegou achando que ele estava tocando e não estava? Bom, eu definitivamente ouço coisas. Sou uma sem educação e pior, convenientemente estressada.

Falando sério, quantas vezes por dia você se pega dizendo: não deu tempo? É uma desculpa tão comum que a gente a incorpora e pior, acredita nela. Pois bem, para tentar evoluir meu espírito pobre, fiz aquela lista infindável de coisas que não deixaria pendentes no ano vindouro. Uma das resoluções de 2007 era escrever a coluna assim que voltasse de férias. E assim como todas as outras promessas (falsas, porém cheias de boa intenção....) não se concretizam, essa obviamente também foi pro vinagre!

É com certa cara de pau que confesso... faz aí uns diazinhos que as férias acabaram, na verdade já estou em pique de carnaval e nada de texto para o ser Curitiba. Resumo: mal voltei de férias e já penso nas próximas. Este é com certeza um ponto positivo dessa vida atribulada, sempre pensar em sombra, água fresca e coquetéizinhos com guarda-chuvas.... No meio tempo? Culpar o trânsito, os filtros anti-spam e a bateria sempre ruim do celular pelos compromissos atrasados ou perdidos. O verão ainda tem um plus: a chuva, bastou chover para tudo o que estava ruim piorar. A conexão vai por água abaixo. Não se vai mais nem de carro, nem de ônibus, nem de avião, menos ainda de helicóptero. (Vai saber se o heliponto está com poças d´água de 3mm?!) Isso sem falar do metrô, cuja moral foi literalmente por terra.

Não vou cuspir no prato que como, se estou postando, é porque sou um dos muitos zumbis, que passam o dia hipnotizados pela web e ablando loucamente no celular. Mas agora, compartilho com vocês mais umas das funcionalidades da vida moderna: ela é a desculpa coletiva ideal, todos falamos esta lígua com certa autoridade e desfaçatez.

Viva a vida moderna! Que aceita complacentemente a culpa.



(Publicada em 2007 no extinto site SerCuritiba)

Pós-educação

Até os 16, 17 anos, nós, os afortunados, que só respondíamos pela alcunha de estudantes, acreditamos que trabalhar é uma nova e divertida etapa que vem pela frente. Tudo bem que é período integral, mas ao contrário do colégio, não se leva lição pra fazer em casa. (Não conta se você for dono do negócio ou freelance)

É uma nova patota que se forma, as bimestrais se transformam em apresentações e projetos importantes, o recreio vira a hora do café... Você ganha o seu cubículo, e-mail, ramal e cartão! Tudo bonitinho e personalizado. Depois de um tempo, você percebe que caiu na rotina de novo e... tcharan: fica com saudade da escola. Até porque, o seu ex-colega de quilo ganhou um tiki maior porque fez uma pós, um MBA, um curso de especialização on-line... Agora é ele que está na primeira fileira, e você continua na turma do fundão – isso contando que você ao menos se divirta com a carreira que escolheu.

Aí você decide ver todos os cursos, palestras e workshops na sua área. Melhor começar light nada de caderno e lousa. (Nessa hora você se esqueceu completamente que hoje em dia isso não existe mais, são notes, relatórios de aula por e-mail e slideshow e que a sua alergia a giz ficou num passado remoto)

Ahhhhhh... que beleza, todo mundo arrumadinho, com cara de gente civilizada, auditório com cadeiras estofadas confortáveis, gente famosa palestrando... Isso sim é estudar! Ser gente grande é ótimo, o intervalo é um momento de descontração - e não de desvarios, o vinho relaxa - não chapa, e você continua tendo a oportunidade de comer besteiras na lanchonete, que agora atende pelo nome de coffee córner. Eu não me envergonho em dizer quantas vezes jantei petit fours... No início eu ficava perto do carrinho, meio sem graça. Depois que fui ficando mais veterana, passei a pegar um punhado no guardanapo, e com um pouquinho mais de tempo de casa, já estava com um copinho térmico de isopor até a boca sem o menor constrangimento. Afinal, eu tenho que me alimentar, não tenho? Fase de crescimento... intelectual!

Da mesma maneira que os gramas de petit four aumentam, surge aquela vontade inerente ao ser humano normal de badernar na aula. Nessa altura da vida você se constrange, acha uma falta de educação tamanha, mas depois de observar os comentários na fileira do lado e se maravilhar com a evolução dos bilhetinhos em sms, a tentação é irresistível! E pensar que eu organizava os papelotinhos por cor: rosa para a Bel, azul para a Sil e preta para o Fê... Fazia um nó danado nas linhas para aproveitar cada espacinho do canto da circular.

O break já não é suficiente para atacar os sequilhos e fazer fofocas, digo, trocar contatos. Mas a seriedade do meu jeans agora acompanhado de saltos e maquiagem me olha no reflexo do celular e sentencia que está tudo errado, que agora eu estou pagando o curso, que entrei lá para aprender e que não tem o menor cabimento não aproveitar a oportunidade. Parece que estou ouvindo o discurso do meu pai... Que até agora, na vida adulta o sermão me acompanha. Bem, o que tenho feito, bravamente diga-se, é resistir a esses impulsos e transformando-os em compras. Porque é incrível o know-how desse pessoal, aprenderam direitinho com a Disney na saída já tem a lojinha: muitos livros sobre o tema da aula, daqueles de capa dura e que vão fazer a maior vista na sua estante!

(Publicada em 2007 no extinto site SerCuritiba)

Oráculo de relacionamentos

A vida imita a arte e a web imita a vida – e a arte. Esta dimensão paralela que se apresenta no monitor e que está a sua disposição a qualquer momento, na verdade, não é tão paralela assim... De certa forma você fala com as pessoas, você as vê, você as espionona... Tudo muito cotidiano, igualzinho a um relacionamento normal. Portanto, os conselhos da vovó e os ditados valem para a vida virtual também. (Só não vale aquele de pegar a malheta, ou de levar o guarda-chuvas... O tempo até fecha, mas não está sujeito a trovoadas)

também e o de O mote de hoje é: o que os olhos não vêem o coração não sente.

Falar por uma janelinha pode ser mais fácil, dá tempo de pensar no que se está escrevendo e ninguém vê os músculos do seu rosto se contorcendo em angústia, ansiedade, ciúme... É uma voz sem timbre, que ganha emoção apenas nas maiúsculas. O out é fácil, mas o in.... Olhar o Orkut alheio, sendo este alheio próximo ou não,, pode ser pior que ir pra micareta com o ser amado. De quem é aquele scrap? De onde você conhece essa loira??? (leia-se mocréia) ???? Ou quem é esse cara? ??(leia-se fdp) Pois é, infelizmente agora tomo cuidado ao trilhar meu caminho pelas páginas dos amigos, é claro que eu já tive a minha cota de stress, mas tem gente que exagera. Eu jJá recebi ligações desesperadas para me silenciar por cometer esta distração de dar um “ei” para um colega!!!! Mais de um amigo quando recebeu o tal olá, responde pianinho por mail: “Não me mande nada no Orkut, minha namorada tem ciúme”. Alow......??? Namorada, não é muito pior eu trocar mails secretos com o seu gato??? Sim, porque ele responde assim por esta via sigilosa e ainda por cima morrendo de vergonha da opressão sofrida por um “olá” até então, inofensivo. As possessivas têm as senhas do e-mail e ainda se torturam lendo os “ois”, e imaginando convites à esbórnia. Tenha fé no taco filhota, eu não estou com um cacho de uvas, uma taça de morangos e um prosecco no gelo, numa lingerie de fazer inveja às musas dos quadrinhos italianos à espera do seu gatohomem. Muita calma nessa hora. Agora.... tenho que concordar que tem gente folgada nesse mundo. Para aqueles que vão além do oi simpático, um básico o que tem feito desde os tempo de escola e vamos marcar um happy e tal e coisa,, para estes: condenação unânime!, Ppodem contar com o meu voto! Já diz a capmanha campanha do guaraná, sem nhem nhem nhem... menos ainda no meu território! (Ppossessiva eu?)

Mas voltando ao tema, o Orkut tem uma carga relacionamental, um histórico de nossas vidas que transparece nos friends da lista, nas comunidades e nos famigerados scraps e fotos. É um oráculo, com presentemmmmm, passadommm e futurrrammm.... Uuma bola de cristal de grátis, que mostra com quem seus amigos estão te traindo, quantas mulheres/homens o seu/ a sua namorado/a conhece e não te apresentou... (só conta aquels com potencial... e cada um sabe onde aperta o calo, mas infelizmente são mais do que gostaríamos que existissem na face da terra.) Mostra também quem o seu affair atual pode estar pegando além de você! Se você achou que o commited era você, ledo engano... outra pessoa passou na frente fazendofez um a ultrapassagem pela direta!!, oO cruel é descobrir assim... uma fotinha (ai) dos dois felizes na balada. Ninguém merece.

Meu conselho: segurem a onda, o que os olhos não vêem o coração não sente, quem procura acha... Não fucem os ex, não fucem os atuais com muita gana de poôr os grilhões (Lembre do mail secreto... garanto que as mulheres têm muitas armas de sedução por mail, sabe aquelas que nem usam decotes?? mal passa batom?? Pois é... danadinhas... Os homens idem. Um convite para sair ganha um ar mais sapeca quando o “não” não é dado na cara... Fora pela internet é mais fácil de assimilar, e sempre pode dar em alguma coisa né? Tudo pode começar com um almoço....)

Seguiu a linha de raciocínio? Segure a imaginação e a curiosidade porque esse crime não compensa. E de acordo com um filósofo ex-amigo meu, os sentimentos são compostos de 70% convivência. (Ainda quero saber o que fica há nos outros 30...) Como a cigana, este oráculo de relacionamentos pode falhar e você acaba sendo o enforcado... Afaste os fantasmas e a nóia de saber quem entrou na página de quem e quem falou o que pra quem... Já ouvi gente achando que pedra no rim era gravidez só por causa de um scrap sobre ultrassom... Xô imaginação fértil! e tudo passa......


(Publicada em 2007 no extinto site SerCuritiba )

Beijos disseminados

Incontestável o poder de alcance da web, mais ainda seu poder sobre a curiosidade humana. Nada como meter o bedelho ou saber da fofoca antes... Existem verdadeiras instituições na Internet que provam que a grama do vizinho é mais verde. Mais que isso gurus online! Ou vai dizer que em um momento de dúvidas, de crise existencial você nunca arriscou os búzios, o I-Ching ou quem sabe um tarô cigano? (Se você nunca teve ganas de saber como seria um pai de santo online você definitivamente está navegando muito, muito pouco....e precisando de mais espiritualidade em sua vidinha de usuário).

Mas há um programa que se supera a cada dia: o Messenger.

Qualquer pessoa que se preze hoje em dia possui uma identidade virtual, acompanhada de um @hotmail ou @msn. Além de ser o bode expiatório da produtividade no trabalho – Que mal há em conversar um pouquinho? Sociabilidade é um pré-requisito para se trabalhar em qualquer empresa, não entendo porque o povo pega tanto no pé.... Que atire a primeira janelinha azul no lixo quem não estiver online!

O Messenger é uma excelente maneira de socializar os micos, as fotos da balada e de pregar peças logo na segundona... Outro dia mesmo um amigo muito espertinho entrou com o nick do meu ex cheio de assunto... Pode? Pode! Mas o que anda me surpreendendo é a capacidade de marketing do msn. Páginas amarelas dos amigos... É praticamente uma feira livre... todo mundo se mostrando que nem alface crespa na banca... ,< ** Roberto/Redator 9999 9999, disponível no mercado**>, .... (O que de tão interessante pode ter na vida alheia para existirem tantos blogs? E aquele monte de bichinhos e bonequinhas que se mexem? Céus o que é aquilo????!!!!) Eu tenho uma amiga que escreve literalmente o que está fazendo, um bbb online: , ou . Tem ainda um Bem querendo confeti mesmo, ninguém merece... A minha família está toda online, dos 8 aos 80... Minha mãe, por exemplo, foi obrigada a colocar , que era pro meu avô não se confundir se estava ou não estava... Mesmo assim ele entra no meu... Oi filha.. tudo bem? Cadê sua mãe?

Agora o fim de linha mesmo é o marketing pessoal... Como diz um amigo meu é a vitrine da solteirada!! Tem fotinhas (ridícula essa mania de falar fotinhas no feminino, porém altamente contagiosa), nicks simpáticos, convites ultraexplícitos para balada e sempre aquele pretexto para puxar um assunto: acabou de entrar. “Oi Cris.. tudo bem... pra que praia vc vai? Também estou precisando de um (solzinho)...” (ugh...)

Contudo, existem os nicks instigantes, aqueles que atiçam a imaginação, a porção literária que existe em nós. Tem os Drummonds, os Nelson Rodrigues e na esmagadora maioria os sofríveis wannabes... , , , . E tem os drops: , , ... Tenho uma amiga delícia online agora mesmo... e ela não deve estar falando da margarina... O que se passa na cabeça das pessoas? Das que escrevem, mas principalmente das que lêem? Vou propor um exercício: viaje - mesmo, senão não tem graça – nos nomes que estão aí agora, do seu lado, cheios de personalidade os com graça e os sem graça. Eu ofereço o meu em sacrifício estou .

Obs:. Se está se perguntando para quem seriam os meus beijos... deixe de ser curioso!

Obs2.: Agora você quer saber onde eles estão sendo disseminados?! Xereta! Isso pode ser impróprio para o horário!!!

Obs3.: Tolinho... é um trecho de um olá carinhoso da crônica do Veríssimo da semana passada. Afinal nada melhor do que fechar com Veríssimo para falar de qualquer texto na Internet. O pobre nunca pensou que fosse responsável por tantas comédias da vida privada....



(Publicada em 2007 no extinto site SerCuritiba)