23 de abr. de 2009

Quem foi que inventou que praia de paulista é shopping?

Como inata paulista que sou, me sinto na obrigação de comentar uma situação pra lá de inusitada que me aconteceu ontem. Estava eu pensando como são irônicos os ditos populares, trabalhando no Shopping Morumbi ( não nego minhas tendências a là Becky Bloom, mas apesar de ter saído com uma singela sacolinha – que era presente – eu estava lá acompanhando uma sessão de fotos) e tinha que cruzar a cidade naquele horárinho cão 19h30 para ir a outro shopping, o Frei Caneca, onde aí sim, me entregaria a uma atividade de lazer – nanana nada de comprinhas, ganhei um ingresso para a peça “Cada um com seus pobrema” que já está esgotada (de novo) e não podia perder a oportunidade.

Respirei fundo e passei pela cancela de saída para enfrentar o asfalto – e os táxis, os motoboys, aqueles malditos faróis que fecham bem na sua vez... Bom, e não é que o trânsito na 23 de maio estava livre e desimpedido?! Antes que eu blasfemasse contra mim mesma me surpreendi com uma av. Paulista também ótima e um frentista de posto que indicou um caminho corretíssimo quando eu me perdi lá pras bandas de lá. (eu sou péssima pra caminhos... meu aniversário já foi, mas um GPS seria um caso de caridade e não conta, será bem recebido em qualquer época do ano)

Quão incrível é isso? (Não do GPS, do trânsito!!!)

Pois é, mas como estamos falando de São Paulo... Quando eu finalmente cheguei ao Shopping não tinha vaga, claro. Fiquei dando voltinhas, depois peguei fila no elevador. Estamos falando dos que interessam, os elevadores 6 e o 7 que vão nos andares pares porque uma vez dentro do shopping é necessário fazer baldeação de elevadores e a turista aqui não fazia nem idéia. Lá do final da fila, avistei uma escada, resolvi eliminar ao menos um andar. Quando saí pela porta corta-fogo estava fora do shopping vendo paredes cegas, e um pequeno jardim que não dava para lugar nenhum. Blam! A porta bateu atrás de mim.

Não tive muita saída, interrompi um colóquio e me informei com um casal que aproveitava a (ex) privacidade do local para conseguir voltar ao shopping. Entrei pelo supermercado onde descobri que ainda tinha seis lances até o teatro. Um de escada, uma tentativa num elevador que não se moveu – pq não atendia os tais andares e eu fiquei lá pagando de distração para o tio da segurança que devia estar se matando de rir do meu desespero vendo a tevezinha na sala de segurança – encontrei outro elevador e consegui finalmente chegar ao meu destino. Me senti aquela abelhinha dos labirintos de livros para colorir, perdida e mal paga e com uma pessoa com a mentalidade de três anos de idade me guiando ao objetivo. Isso sem contar que, em 100m de corredor consegui encontrar uma amiga que não via há anos e uma tia saindo do elevador no qual que precisava tão desesperadamente entrar. E claro, tive que falar “Oiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!! Tô atrasada.”, assim super simpática. Mas elas são paulistas também, me entenderam.

Depois a gente chega descabelada e esbaforida no teatro e aquela senhorinha com os óculos e cabelinho de Dona Violeta olham pra gente com aquela cara de ‘Humpf! No meu tempo, as pessoas se arrumavam mais para vir ao teatro....’


Para constar: uma das primeiras piadas incríveis do Marcelo Médici – das ótimas que eu ouvi ontem – foi justamente que ele se atrasou um pouquinho por causa do elevador. Só sendo um mestre jedi do bom-humor mesmo....

Resumo:
Em 20 minutos eu cruzei a cidade, mas não consegui subir do G2 ao sexto andar. Ah... e chegando lá –sim eu cheguei a tempo - ainda tinha uma escada para poder entrar no teatro. Fiquei mais chocada que a Barbie na caixa...

17 de abr. de 2009

Coelho branco com relógio digital

Ao chegar afobada em uma reunião comentei que estava me sentidno o coelho do livro de Lewis Carrol, o coelhinho branco de olhos cor-de-rosa que está sempre atrasado. Ouvi em resposta: “Sabe que realmente combina com você?!” Não entendi de pronto se isso era bom ou ruim, mas vá lá... a idéia brilhante de fazer a comparação foi minha.

Saindo desta reunião que já era a segunda do dia antes do meio-dia em véspera de feriado consegui encaixar um cafezinho com uma amiga que não encontrava pessoalmente há meses. Sim porque Messenger é ao vivo, mas não é a mesma coisa. Quer ver? Em 15 minutos a gente conseguiu extrair o máximo que duas mulheres ativas do século XXI são capazes: toamamos dois cafezihos – nespresso, claro – atualizamos as novidades (ela me passou o nome de uma acupunturista que faz milagres and I quote:“ela chuta na bunda” – calma isso só quer dizer que ela dá um empurrão, que é pra gente ir pra frente, sair de onde está parada.. e um cutucão não faria isso), também reclamamos dos serviços de informação e culturais mais basais (celular e tv à cabo são o que?) e como somos reféns destas empresas provedoras sem-vergonha.... Também encontramos tempo para fumar um cigarro atrás da moita porque toda mulher moderna e descolada sabe que fumar está suuuuper out, só se for discretamente atrás de um vaso enoooorme pra ninguém ver. (eu não fumo, mas faço companhia). E, claro, também falamos das angústias estéticas: ela achando que a batata da perna era gorda e eu me sentindo hormonalmente tão inchada como uma escultura de Botero. Gordinha, mas cult. Sempre. Ufa, ainda rolaram mais trocas de assunto, telefones de cabeleireiro, datas de bazares e zum! Casa uma voltou ao seu atarefado mundinho profissional que não daria mais uma folga tão informal e proveitosa para relaxar.

Depois fui almoçar, também no pique paulista, corri pro computador, respondi todos os mails, fiz uma lista de pendências que me libertariam para finalmente entrar no feriadão. E eis que já passou das 19h, sexta-feira e eu ainda estou aqui... Esperando um retorno para poder tomar meu rumo no trânsito. O que me leva a pensar se não somos todos coelhinhos... Todos que moramos em cidades imensas e caóticas e que, contudo, não viveríamos sem.
Passar dias sem pegar trânsito, sem pegar fila, sem ver aglomerações, sem xingar com gosto um motoboy, um motorista de táxi e um de ônibus, sem cobiçar – e não necessariamente comer – um delicioso e calórico pastel de feira ou um pãozinho na chapa dourado de manteiga – aquela COM colesterol... Efetivamente ir ao teatro, ao cinema ou a uma exposição decente. Não chegar atrasado na terapia, variar o cardápio do final de semana porque pizza delivery não é tão boa quanto na pizzaria, acertar a roupa porque, afinal, o clima pode ser previsto... Ligar para um serviço de 0800 que seja mesmo gratuito e não intitulado “capitais e regiões metropolitanas”...
Ah... isso pra paulistano “é férias”!

Nós somos todos coelhos que não saberiam viver sem a sensação de estar caindo cada vez mais fundo nessa toca e olhando no relógio sem ver, mas com a certeza de que não vai dar tempo!
Mas coelhos modernos, pq o que é o celular se não um outro relógio pra gente carregar??? E com várias musiquinhas para alertar de maneira diferente que não vamos chegar a tempo!

Para baixo na toca do coelho

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS LEWIS CAROLL
Capítulo 1

Alice estava começando a ficar muito cansada de estar sentada ao lado de sua irmã e não ter nada para fazer: uma vez ou duas ela dava uma olhadinha no livro que a irmã lia, mas não havia figuras ou diálogos nele e “para que serve um livro”, pensou Alice, “sem figuras nem diálogos?”
Então, ela pensava consigo mesma (tão bem quanto era possível naquele dia quente que a deixava sonolenta e estúpida) se o prazer de fazer um colar de margaridas era mais forte do que o esforço de ter de levantar e colher as margaridas, quando subitamente um Coelho Branco com olhos cor-de-rosa passou correndo perto dela.
Não havia nada de muito especial nisso, também Alice não achou muito fora do normal ouvir o Coelho dizer para si mesmo “Oh puxa! Oh puxa! Eu devo estar muito atrasado!” (quando ela pensou nisso depois, ocorreu-lhe que deveria ter achado estranho, mas na hora tudo parecia muito natural); mas, quando o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, e olhou para ele, apressando-se a seguir, Alice pôs-se em pé e lhe passou a idéia pela mente como um relâmpago, que ela nunca vira antes um coelho com um bolso no colete e menos ainda com um relógio para tirar dele. Ardendo de curiosidade, ela correu pelo campo atrás dele, a tempo de vê-lo saltar para dentro de uma grande toca de coelho embaixo da cerca.
No mesmo instante, Alice entrou atrás dele, sem pensar como faria para sair dali.
A toca do coelho dava diretamente em um túnel, e então aprofundava-se repentinamente. Tão repentinamente que Alice não teve um momento sequer para pensar antes de já se encontrar caindo no que parecia ser bastante fundo.