17 de abr. de 2009

Coelho branco com relógio digital

Ao chegar afobada em uma reunião comentei que estava me sentidno o coelho do livro de Lewis Carrol, o coelhinho branco de olhos cor-de-rosa que está sempre atrasado. Ouvi em resposta: “Sabe que realmente combina com você?!” Não entendi de pronto se isso era bom ou ruim, mas vá lá... a idéia brilhante de fazer a comparação foi minha.

Saindo desta reunião que já era a segunda do dia antes do meio-dia em véspera de feriado consegui encaixar um cafezinho com uma amiga que não encontrava pessoalmente há meses. Sim porque Messenger é ao vivo, mas não é a mesma coisa. Quer ver? Em 15 minutos a gente conseguiu extrair o máximo que duas mulheres ativas do século XXI são capazes: toamamos dois cafezihos – nespresso, claro – atualizamos as novidades (ela me passou o nome de uma acupunturista que faz milagres and I quote:“ela chuta na bunda” – calma isso só quer dizer que ela dá um empurrão, que é pra gente ir pra frente, sair de onde está parada.. e um cutucão não faria isso), também reclamamos dos serviços de informação e culturais mais basais (celular e tv à cabo são o que?) e como somos reféns destas empresas provedoras sem-vergonha.... Também encontramos tempo para fumar um cigarro atrás da moita porque toda mulher moderna e descolada sabe que fumar está suuuuper out, só se for discretamente atrás de um vaso enoooorme pra ninguém ver. (eu não fumo, mas faço companhia). E, claro, também falamos das angústias estéticas: ela achando que a batata da perna era gorda e eu me sentindo hormonalmente tão inchada como uma escultura de Botero. Gordinha, mas cult. Sempre. Ufa, ainda rolaram mais trocas de assunto, telefones de cabeleireiro, datas de bazares e zum! Casa uma voltou ao seu atarefado mundinho profissional que não daria mais uma folga tão informal e proveitosa para relaxar.

Depois fui almoçar, também no pique paulista, corri pro computador, respondi todos os mails, fiz uma lista de pendências que me libertariam para finalmente entrar no feriadão. E eis que já passou das 19h, sexta-feira e eu ainda estou aqui... Esperando um retorno para poder tomar meu rumo no trânsito. O que me leva a pensar se não somos todos coelhinhos... Todos que moramos em cidades imensas e caóticas e que, contudo, não viveríamos sem.
Passar dias sem pegar trânsito, sem pegar fila, sem ver aglomerações, sem xingar com gosto um motoboy, um motorista de táxi e um de ônibus, sem cobiçar – e não necessariamente comer – um delicioso e calórico pastel de feira ou um pãozinho na chapa dourado de manteiga – aquela COM colesterol... Efetivamente ir ao teatro, ao cinema ou a uma exposição decente. Não chegar atrasado na terapia, variar o cardápio do final de semana porque pizza delivery não é tão boa quanto na pizzaria, acertar a roupa porque, afinal, o clima pode ser previsto... Ligar para um serviço de 0800 que seja mesmo gratuito e não intitulado “capitais e regiões metropolitanas”...
Ah... isso pra paulistano “é férias”!

Nós somos todos coelhos que não saberiam viver sem a sensação de estar caindo cada vez mais fundo nessa toca e olhando no relógio sem ver, mas com a certeza de que não vai dar tempo!
Mas coelhos modernos, pq o que é o celular se não um outro relógio pra gente carregar??? E com várias musiquinhas para alertar de maneira diferente que não vamos chegar a tempo!

Nenhum comentário: