23 de mar. de 2011

Arrastão

Hoje acordei com a sensação de que estava sendo engolida. Não. Não foi pesadelo, porque a impressão permaneceu comigo quando já estava de olhos abertos. (ou quase... não sou uma pessoa matinal) O que está me sufocando é um emaranhado de fios numa era do wireless, aos 30 e poucos anos, é a tecnologia que está me engolfando.

Quando penso que faço parte de uma geração que achava o máximo uma tela com cursor piscando em verde, um disquete do tamanho de uma frigideira de ovos estalados e fita k7... O mundo andou muito rápido nas últimas décadas e esta virada está mexendo muito mais profundamente com nosso comportamento do que sequer temos tempo de imaginar. Qual a minha surpresa quando me deparei com a coluna de Luli Radfahrer, “O mundo híbrido” que degustei junto ao meu café preto e vi: opa... não sou só eu...

“Boa parte da ansiedade em que se vive hoje vem de uma mudança de comportamento abrangente e silenciosa, que surgiu nas mídias sociais e se misturou a outras regras de convívio.”

A chamada do caderno de tecnologia da Folha hoje é o aniversário do Twitter, mas o que chama atenção mesmo é a parte ‘retrô’ que permeia todas as páginas e fala dos estranhamentos dos usuários de novas interfaces de seus programas favoritos. De como tudo fica obsoleto rápido demais, de como as versões beta nascem e morrem, sem necessariamente chegarem a vida adulta. De como já não dá mais tempo de se acostumar com as alterações e atualizações. É só você se apegar, deixar redondinho que ela muda outra vez. Estamos sempre como o coelho branco, atrasados. Nem precisa checar o relógio, vai nos atrasar ainda mais.

“Outras mudanças como a crescente acessibilidade e disponibilidade, são ainda mais agressivas (...) Plantas têm períodos férteis, todos precisam descansar uma parte do dia e nem as crianças mais mimadas das gerações anteriores acreditariam em um mundo sempre ligado, próximo e prestativo. Hoje, porém, é quase um crime estar indisponível. Todos precisam estar sempre prontos, quaisquer que sejam as condições. As vendas de Viagra que o digam.”


A coluna dá muito pano para manga, permite detalhamentos em muitos aspectos... Mas pulo para outra página: “Artista britânica desenha novidades e pinta usando máquinas de escrever.” (Desenha novidades... o que isso quer dizer? Que ela é uma artista criativa e original?!) Enfim, Keira Rathborne se vale de marcas e modelos clássicos (que ela designa vintage typewriters) como Smith Corona, Olivetti e Remington para compor obras com caracteres. Gente, a criativa em questão tem 27 anos! O que a destaca entre seus contemporâneos é justamente desenvolver arte offline. “Há uma nostalgia enorme (...) para todos além de certa idade. Algumas pessoas têm um apego muito romântico a elas”.

Se isso não é um jeito fofo de dizer que as pessoas sentem saudade de um tempo em que conseguiam acompanhar as mudanças, o que mais seria?





Texto do Luli na íntegra

www.keirarathbone.com/

2 comentários:

Letícia disse...

Eu sou do mesmo tempo. E tirava sarro da minha mãe que não sabia programar o video-cassete, né? O marido (da mesma idade que eu) não consegue entender o twitter.

Eu sei que vai chegar a hora em que eu não vou conseguir acompanhar...

jornaleira disse...

Oi Letícia, eu não estava conseguindo postar por alguma falha técnica...

Tomara que lancem um manual para os retardatários tecnológicos, para os nossos filhos e sobrinhos explicarem pra gente as maluquices que ainda vem por aí! j.