Quando penso que faço parte de uma geração que achava o máximo uma tela com cursor piscando em verde, um disquete do tamanho de uma frigideira de ovos estalados e fita k7... O mundo andou muito rápido nas últimas décadas e esta virada está mexendo muito mais profundamente com nosso comportamento do que sequer temos tempo de imaginar. Qual a minha surpresa quando me deparei com a coluna de Luli Radfahrer, “O mundo híbrido” que degustei junto ao meu café preto e vi: opa... não sou só eu...
“Boa parte da ansiedade em que se vive hoje vem de uma mudança de comportamento abrangente e silenciosa, que surgiu nas mídias sociais e se misturou a outras regras de convívio.”
A chamada do caderno de tecnologia da Folha hoje é o aniversário do Twitter, mas o que chama atenção mesmo é a parte ‘retrô’ que permeia todas as páginas e fala dos estranhamentos dos usuários de novas interfaces de seus programas favoritos. De como tudo fica obsoleto rápido demais, de como as versões beta nascem e morrem, sem necessariamente chegarem a vida adulta. De como já não dá mais tempo de se acostumar com as alterações e atualizações. É só você se apegar, deixar redondinho que ela muda outra vez. Estamos sempre como o coelho branco, atrasados. Nem precisa checar o relógio, vai nos atrasar ainda mais.
“Outras mudanças como a crescente acessibilidade e disponibilidade, são ainda mais agressivas (...) Plantas têm períodos férteis, todos precisam descansar uma parte do dia e nem as crianças mais mimadas das gerações anteriores acreditariam em um mundo sempre ligado, próximo e prestativo. Hoje, porém, é quase um crime estar indisponível. Todos precisam estar sempre prontos, quaisquer que sejam as condições. As vendas de Viagra que o digam.”

A coluna dá muito pano para manga, permite detalhamentos em muitos aspectos... Mas pulo para outra página: “Artista britânica desenha novidades e pinta usando máquinas de escrever.” (Desenha novidades... o que isso quer dizer? Que ela é uma artista criativa e original?!) Enfim, Keira Rathborne se vale de marcas e modelos clássicos (que ela designa vintage typewriters) como Smith Corona, Olivetti e Remington para compor obras com caracteres. Gente, a criativa em questão tem 27 anos! O que a destaca entre seus contemporâneos é justamente desenvolver arte offline. “Há uma nostalgia enorme (...) para todos além de certa idade. Algumas pessoas têm um apego muito romântico a elas”.
Se isso não é um jeito fofo de dizer que as pessoas sentem saudade de um tempo em que conseguiam acompanhar as mudanças, o que mais seria?
Texto do Luli na íntegra
www.keirarathbone.com/