14 de fev. de 2008

Folia – lado b

Festa, evento, show... O que é o Carnaval atualmente? Sim, porque é muito mais do que uma manifestação popular de música e dança, muito mais do que foliões fantasiados cantando e jogando serpentinas – aliás, a serpentina já é mais famosa por ser o tubo condutor que gela o chope e o confeti por ser um doce colorido com chocolate. De festa popular a espetáculo empresariado. Será que estamos privatizando o feriado ou globalizando sua estrutura para melhor atender aos conglomerados do entretenimento?

Posso estar exagerando, mas a amostra que vi pela TV este ano foi chocante. Alas e mais alas coreografadas, lindo, simplesmente lindo, mas de uma espontaneidade zero. As pessoas cantavam o samba em meio ao um-dois-três-e-quatro, cinco-seis-sete-e-oito... Outra coisa que chamou atenção foi a diferença feita pelo televisionamento entre RIO e SP, além de dar para ver essa diferença de propostas - em SP, um carnaval de avenida mostrado como menos evoluído, os integrantes brincavam e pulavam livremente - os efeitos especiais, as tomadas, os comentários, tudo leva a apresentação da capital carioca a propagar o que já acontece no universo das novelas.

Não vai surgir um carnaval minissérie? Estou à espera.

Enquanto isso fica que nem Tostines: aparece mais porque tem mais celebridade ou tem mais celebridade porque aparece mais?

Manifestações populares são coloridas e alegres em todos os lugares e seus defeitos e qualidades podem sim ser ampliados pelas “lentes” de quem vê. As lentes que magnificam os cachês das celebridades instantâneas e invadem a festa dos artistas. Um Carnaval que vende. Cotas de patrocínio, cervejas, revistas, jornais... Nas bancas as mulatas corpulentas, os decotes das atrizes, os deslizes dos cantores e não mais os cds de marchinhas, os colares de flores, a purpurina... a menina vestida de bailarina, o garoto de pirata...

Quem a Ivete vai agarrar este ano? Qual bloco terá mais pegação? Em Salvador se mostra a diversidade: samba, axé, frevo, forró, eletrônica, todos os ritmos misturados conferem ânimo a quem vai atrás do bloco ou atrás do abadá pro camarote, mas desconfigura um pouco a proposta inicial. O pitoresco rende-se ao que atende a maioria. A cultura engole sem mastigar novas referências e se transforma. Tenho um certo receio por ela, que não deixará de existir, mas terá sua alma diluída, digitalizada e distribuída. Que nem confeti...

Nenhum comentário: